O Tesouro de Karun, uma coleção de 363 objetos e artefactos

O Tesouro de Karun foi roubado da Turquia mas acabaria por ser devolvido em 1 993, depois de uma batalha legal que se arrastou durante 6 anos.

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O Tesouro de Karun, uma coleção de 363 objetos e artefactos

Este tesouro lídio é uma coleção de 363 peças, muitas delas de prata e de ouro. Estas peças foram retiradas dos seus túmulos funerários nas províncias de Usak e Manisa, durante o século VI a.C.. Pensa-se que este tesouro pertenceu ao antigo rei Cresso de Lídia, que segundo os textos do grego Solon era “o rei mais rico entre todos os reis que alguma vez houve na Terra”.

Existe até uma expressão em inglês que diz “as rich as Krezus”, que significa precisamente “rico como Cresso”. Esta é uma expressão que se usa para dar conta da dimensão da riqueza das pessoas.

Pensa-se que Karun (Cresso) seja uma das pessoas mencionadas na Tora, e que além disso o nome “Cresso” fosse usado apenas pelas pessoas mais ricas. O reino de Lídia foi fundado na Idade do Bronze antes de Cristo, e tinha o seu centro em Manisa e em Usak, no sudoeste da Anatólia. Este reino manteve o seu poder até à chegada dos romanos, que acabariam por exercer a sua soberania na região. Os lídios introduziram uma descoberta que mudou o destino da humanidade até aos nossos dias. Os lídios cunharam as primeiras moedas de ouro e prata em toda a história.

Os lídios alcançaram importantes riquezas com o seu ouro, que era retirado do fundo dos rios. No princípio cunharam moedas de eletro – também conhecido como ouro branco – mas depois acabariam por se especializar em exclusividade na cunhagem de moedas de ouro. O rei mais famoso dos lídios foi sem dúvida Cresso, que subiu ao trono em 560 antes de Cristo. Com o aumento da quantidade de ouro encontrado no leito dos rios durante aquele período, o reino lídio atingiu grande riqueza e prosperidade. O reino de Lídia desapareceu com a ocupação persa, precisamente no momento em que atingiu o seu mais alto nível de riqueza. O rei Cresso foi obrigado a sentar-se no seu trono, onde tinham sido colocados ramos de árvore. Foi então ateado fogo ao trono, e quando Cresso estava prestes a ser queimado perante os olhos do imperador persa, o rei Cresso começou a rir-se. O imperador persa ficou impressionado com o que viu, e levou Cresso para o Irão para ser seu assessor.

A riqueza recolhida nesta região durante o período dos lídios, ficou sem dúvida refletida nas obras de arte deste reino. Nas colinas construídas com terra sobre os túmulos, foram deixadas obras de ouro muito valiosas como um presente para os mortos que aí foram enterrados. Desde a sua construção, que estes túmulos foram alvo de roubos por parte de saqueadores. Talvez se possa até dizer, que as pessoas que participaram nas cerimónias fúnebres eram as primeiras a tentar saquear os túmulos. Estes túmulos ainda continuam a ser descobertos pelos arqueólogos. O mais famoso destes túmulos foi alvo dos caçadores de tesouros em 1 960 em Gure, na região de Usak.

Uma noite no ano de 1 965, dez amigos entraram no túmulo através de um burcado que escavaram no teto do túmulo funerário da Idade do Ferro. Estes saqueadores também roubaram outros 3 túmulos funerários. Um total de 363 peças muito valiosas pertencentes a Cresso, foram saqueadas por estes caçadores de tesouros, que de imediato venderam as peças a traficantes de artefactos históricos.

O Tesouro de Karun foi vendido nos Estados Unidos e acabou em exibição no Museu Metropolitano de Nova Iorque em 1 980. E começou então uma batalha legal que se arrastou durante 6 anos, depois de um dos caçadores de tesouros ter denunciado os outros.

O Ministério da Cultura turco pediu a devolução destas obras, depois do jornalista turco Ozgen Acar se ter apercebido de que estas obras estavam nos Estados Unidos. O Ministério da Cultura da Turquia atingiu o seu objetivo de recuperar as peças em 1 993, pagando por isso 40 milhões de dólares. O Tesouro de Karun foi repatriado de volta para a Turquia com grandes cerimónias. Estas peças estão agora expostas nas salas de exibição do Museu de Usak.

A obra mais famosa do Tesouro de Karun é o broche de ouro em forma de hipocampo (um cavalo alado mítico com cauda de paz que representa o ar, a terra e a água). Esta peça chama-se “Cavalo de Mar Alado”. Mas em 2 006, depois de um aviso anónimo, descobriu-se que o broche em exibição era uma falsificação, tendo o original novamente desaparecido. Depois de uma investigação, o diretor do museu foi preso e admitiu ter vendido tesouros do museu. O diretor do museu esteve preso 13 anos por estes crimes. O broche verdadeiro foi encontrado na Alemanha em 2 012 e acabou por ser devolvido pela Interpol. Hoje em dia, este broche está exposto no Museu das Civilizações da Anatólia, em Ancara.

O roubo e o processo de devolução do Tesouro de Karun, representou uma centelha de esperança para outros países cujos artefactos históricos e heranças culturais foram roubadas. O facto de terem sido endurecidas as regras internacionais e de ter sido proibido o tráfico de artefactos históricos, impedirá o roubo destas obras.



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