Análise da Atualidade: Resultados das eleições autárquicas na Türkiye e os efeitos no país

A 31 de março de 2024, realizaram-se na Türkiye eleições autárquicas numa atmosfera de maturidade democrática. A determinação da competitividade política através dos resultados das urnas deve ser vista como um novo indicador da consolidação da democracia na Türkiye. Nas eleições em que a taxa de participação foi de 78,55%, o CHP saiu vitorioso como partido mais votado com 37,76% dos votos, em 14 cidades metrópoles e 21 províncias. Uma das primeiras coisas que chama a atenção é a baixa taxa de participação e, por conseguinte, as grandes perdas no eleitorado do Partido AK. Em muitos aspetos, os resultados das eleições autárquicas têm o potencial de influenciar a política turca.

O CHP aumentou os seus votos em 3,3 milhões, enquanto o Partido AK reduziu os seus votos em 4,2 milhões, em comparação com as eleições anteriores. Nas metrópoles, verifica-se que o objetivo da "aliança na base" funcionou e a maioria dos votos do Partido DEM e do Partido İYİ foi para os candidatos do CHP. O CHP conseguiu consolidar em grande medida o seu próprio eleitorado e atingiu patamares nunca antes alcançados na sua história, ao receber um forte apoio da base dos partidos adjacentes. Com estes resultados, pode dizer-se que a reação à situação económica veio ao de cima nas eleições locais. O CHP conseguiu manter as suas alianças de 2019 e 2023, embora com um modelo diferente aos olhos do eleitorado.

Para além das metrópoles, o facto de o CHP ter ganho municípios em algumas cidades conservadoras da Anatólia aponta para uma nova realidade. O Presidente do CHP, Ozel, descreveu os resultados eleitorais como "a abertura da porta a um novo clima político" e, além disso, "um marco para todos os partidos políticos". Nos próximos anos, veremos se a nova direção do CHP, que se apresentou com o lema da mudança, conseguirá transformar este fenómeno numa tendência. 

O Partido AK, vencedor das eleições presidenciais e legislativas de maio de 2023, foi o segundo partido pela primeira vez na sua vida política, com 35,48% dos votos, em 12 cidades metrópoles e 12 províncias nestas eleições locais. É a primeira vez que tal acontece desde 2002. Nestas eleições, em que o número de votos nulos e a abstenção atingiu os 15 milhões, o Partido AK parece ter enfrentado uma reação inesperada dos eleitores. Neste sentido, é possível constatar que os eleitores do Partido AK pretenderam dar uma lição. O agravamento dos problemas económicos desde a pandemia de Covid-19 e a falta de progressos na sua resolução podem ser considerados como uma das principais razões para esta situação. De certa forma, verifica-se que as contas económicas das eleições de maio de 2023 e março de 2024 estão conjugadas.

Para compreender a reação do eleitorado do Partido AK, pode dizer-se que questões como os perfis dos candidatos baseados nas províncias, a campanha Yeni Refah Faktor e a falta de um discurso dominante nas eleições também contribuíram para o resultado.

 O discurso do Presidente Erdogan na noite das eleições, em que descreveu as eleições de 31 de março "não como o fim, mas como um ponto de viragem", dá um forte sinal de que utilizará os resultados eleitorais para uma mudança. Mostrando mais uma vez o seu respeito pela vontade nacional, Erdogan falou sobre as vantagens da democracia numa linguagem inclusiva.

Apontando para a necessidade de renovação e de aprender lições, anunciou que o Partido AK faria uma "autocrítica corajosa".

Erdogan disse que iria continuar o seu mandato de quatro anos a um ritmo intenso e neutralizou as discussões sobre possíveis eleições antecipadas e deu moral à sua base e organização. As eleições autárquicas de 31 de março, que são um "ponto de viragem" para o Partido AK e um "marco" para o CHP, indicam que a Türkiye vai viver um período muito dinâmico até 2028.

Se o Partido AK, no poder, assegurar a renovação e melhorar a repartição dos rendimentos a favor das pessoas com baixos rendimentos, poderá conseguir atrair de novo os seus eleitores. O CHP, pelo contrário, tem agora um fardo político mais pesado para consolidar os seus ganhos nestas eleições.